Aos 51 anos de idade decidi olhar um pouco para trás. Vislumbrar meus anos passados e contar um pouco daquilo que tenho passado. São muitas turbulências e algumas alegrias. Principalmente quando se trata de conquistas. Digo isso porque minhas coisas são próprias. Sempre fui de avançar por minha conta e risco, mesmo sabendo que nessa vida temos que calcular e medir todos os passos. Faço isso com antecipação necessária e procuro não prejudicar ninguém em minhas decisões.
Nasci em 1968, ano de muita confusão no Brasil e no mundo. Contei
isso detalhadamente em meu livro UM REPÓRTER (Teresina, 2011, edição do autor).
Pouco tempo depois tive poliomielite, uma doença que paralisa membros e nos
torna deficientes. Meus pais se separaram e fiquei em situação de muita
dificuldade. Mas encontrei dois anjos salvadores chamados Anaíde e Amália,
irmãs entre si e que decidiram me adotar.
Houve alguma reação diante do seu ato porque era um risco
muito grande para elas. Um menino doente, numa época de crise profunda. Vivíamos
no final dos anos 1960 e o Brasil estava tentando se ajustar à realidade
mundial. Elas assumiram e me conduziram até aqui. Já faleceram. Segui na
jornada. Me deram de tudo que se possa imaginar para ser um cidadão do bem. Leitura,
estudos, cultura. A educação acima de tudo era o seu lema.
Mas havia muita torcida contra. Sempre há. Um menino
deficiente, filho adotado, que veio apenas para dar despesa e muito trabalho. Isso
realmente incomoda. E incomodou. Então havia gente querendo que as coisas
dessem errado só pelo simples prazer de falarem adiante: eu bem que avisei. Meu
esforço, portanto, tinha que ser redobrado. Aliás, tem que ser redobrado sempre.
As pessoas estão sempre com as mesmas intenções. “Eu avisei.”
Muitas pedras foram atiradas em minha direção. Consegui me
esquivar da maioria. Algumas conseguem me atingir em cheio. Me causam tombos
horríveis. Mas tenho conseguido levantar com firmeza e altivez, apesar dos
problemas com os nervos plantares, que me dificultam o equilíbrio. Isso não é
empecilho para ninguém. Estudei, com todas as dificuldades que se possa
imaginar numa época em que não havia tantos direitos.
Andar de ônibus sem cadeiras preferenciais. Era assim que
acontecia no meu tempo. Na adolescência, houve muitas pressões. De todas as
formas possíveis e imagináveis. Principalmente quando decidi que seria
jornalista e não médico. Minha mãe queria que eu fosse médico para ajudar a
combater a paralisia infantil. Mas não havia mais nada a ser combatido. E minha
meta era outra. Eu queria salvar o mundo. Imagine você. Todos queremos salvar o
mundo aos 16 anos.
SEM PROBLEMAS
Talvez eu devesse ter seguido carreira na medicina. Os problemas seriam bem menos. Quem sabe?! Sigo adiante. Nunca tive problemas com drogas. Muito menos com bebida alcoólica. Nunca frequentei analistas, psicanalistas, psiquiatras. Nunca tive qualquer distúrbio emocional. Nada, absolutamente nada. Isso apesar da torcida contra, do desejo “daqueles” de que as coisas dessem errado. Qualquer pequeno tropeço era motivo de longos sermões, de longas discussões. Até que decidi pelo afastamento completo. Sou como Torquato Neto. Realmente “só quero saber do que pode dar certo.” Eles queriam que eu desse errado, que eu fosse um fracasso completo, apenas mais um na multidão.
Talvez eu devesse ter seguido carreira na medicina. Os problemas seriam bem menos. Quem sabe?! Sigo adiante. Nunca tive problemas com drogas. Muito menos com bebida alcoólica. Nunca frequentei analistas, psicanalistas, psiquiatras. Nunca tive qualquer distúrbio emocional. Nada, absolutamente nada. Isso apesar da torcida contra, do desejo “daqueles” de que as coisas dessem errado. Qualquer pequeno tropeço era motivo de longos sermões, de longas discussões. Até que decidi pelo afastamento completo. Sou como Torquato Neto. Realmente “só quero saber do que pode dar certo.” Eles queriam que eu desse errado, que eu fosse um fracasso completo, apenas mais um na multidão.
Simplesmente, que tivesse cumprido a orientação daquela
mulher que encontrei aos 11 anos num posto de saúde no conjunto Saci, em
Teresina. Olhou para mim e disse: você é aposentado? Respondi: não, senhora.
Por que não se aposenta? – ela insiste. Respondo que não, que pretendia
estudar, me formar, trabalhar, constituir família. Que eu saiba, aposentadoria
tem outra finalidade. É para quem não pode trabalhar, ou já trabalhou o
suficiente. Não era o meu perfil. Principalmente naquele tempo.
Você deve estar muito curioso para saber quem são essas
pessoas que torcem tanto pelo meu fracasso. Mas não é apenas do meu. Não especificamente
do meu. Posso dar um exemplo: pessoas que não deram certo, que estão do seu
lado e não conseguiram se realizar em nada. Nem na profissão, nem no casamento,
nem nos estudos. Vivem uma vida completamente apagada, não ajudam ninguém, não
seguem para lugar nenhum. Vivem por viver. Apenas isso. Poderiam fazer mais por
si próprias. Mas não fazem, preferem torcer contra os outros ao invés de buscar
o seu progresso. Quanto a mim. Bem, acho que vou prosseguir tentando, afinal
esse tipo de gente começou a me azarar praticamente desde os meus primeiros
anos. Naquele tempo eu era uma criança indefesa. Hoje posso, ao menos, me
defender. Quando menos, esbravejando ao mundo a minha singela história.
Fotos – Reunião familiar em torno do meu aniversário na
noite de sábado (08/06/2019). Com amigos, familiares, Pedrina e Juquinha.
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