Um amigo, Clayton Sousa, disse num grupo de WhatsApp (Jornalista Toni Rodrigues), que devemos ter muito cuidado com tudo aquilo que plantamos. Muito adiante temos que colher o resultado de tudo isso. É verdade. Bonfim Filho era um cara cuidadoso. Militar de carreira. Em todos os sentidos. O pai era oficial da Polícia Militar. Ele próprio começou sua trajetória no Exército brasileiro. Serviu em lugares ermos e distantes. Temos afinidades nesse sentido. Ele atuou ao lado de meu primo, irmão e compadre Antonio Carlos Pereira Barbosa.
Mas eu o conheci muito depois. Foi nos anos noventa, quando ele estava seriamente engajado no combate ao crime organizado. Naquele tempo eu era editor e editorialista do jornal Meio Norte. Estávamos todos envolvidos naquele processo duro, arriscado. Eram muitos os elementos a serviço do crime. São muitos, ainda, infelizmente. O crime organizado persiste, vivo, não morre nunca. Tem mil cabeças, a serpente. Se renova sempre. Revive ainda mais forte. Sempre que você abate uma das suas organizações, outra aparece em seu lugar. É o que acontece hoje no Piauí.
Um dia desses falamos na Rádio FM Cultura de Teresina quando ele concedeu longa entrevista para falar do assunto. Gravei uma parte dela em vídeo porque estava no meio do caminho quando a entrevista começou. Tratamos de vários temas relacionados à história de vida do nobre entrevistado Bonfim Filho. Ele contou sua parte, contei minha parte, de tudo aquilo que vivenciamos naquele período difícil, conturbado. De como muitos daqueles políticos que participaram erroneamente tiraram proveito da situação. Fingiram que estavam sendo perseguidos e não era nada daquilo. Na verdade, apenas lançaram notas ao vento, conseguiram muita propaganda em torno do seu nome e foram se refugiar em Brasília, enquanto ficamos aqui, nós outros, correndo os riscos de verdade, de sermos alcançados pelas balas assassinas do esquadrão da morte. Que, agora, está travestido de outra vestimenta.
É o mesmo esquadrão, que produz a mesma morte. Só que com outra roupagem. Uma roupagem suave, de cores amenas, fala mansa, se apresenta com uma pele de cordeiro, cordato, vai aos meios de comunicação com a linguagem de quem está ao lado do povo e diz que está tudo muito bonito, muito bacana, quando nas ruas a situação é outra, completamente diferente. E mesmo assim todos acreditam. O crime continua, organizado, matando, fazendo baixas, nas ruas, nos campos, nas cidades, em todos os lugares. E Bonfim concordou comigo. De repente, uma ligação. Era o delegado geral na época - meu querido amigo Riedel Baptista. Tinha outra visão, claro. Ele disse que a situação estava sob controle, que os bandidos estavam devidamente condenados e presos, que já não tinham a mesma força de antes. E coisa e tal.
Sim, aqueles bandidos. Mas não estávamos falando daqueles bandidos. Estávamos falando dos sucessores daqueles bandidos. Os que os prenderam para tomar os seus lugares. E foi exatamente assim que aconteceu nosso último encontro. Meu e de Bonfim. No estúdio da FM Cultura de Teresina. Paulo Araújo foi quem propiciou essa entrevista.
Bonfim não tinha mais oportunidade na imprensa. Era meu ouvinte preferencial. Na Teresina FM e na FM Cultura. Era meu espectador no canal Toni Rodrigues Além da Notícia. Era um amigo pessoal de quem gostava muito e a quem consultava sempre. Nunca deixei de consulta-lo. Nunca deixei de entrevistá-lo. Nunca o deixei no esquecimento. Sempre o vi como uma fonte inesgotável de conhecimento jurídico e policial. Um policial de verdade. Era um dos seus grandes admiradores. Tenho certeza que esse grande homem estará em harmonia com as forças da natureza. Porque era chama viva do sentimento humano. Tenho para mim. (TR)
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