segunda-feira, 10 de junho de 2019

O que há de mal em gostar de música brega?


A música brega

Em 2004, os anos 80 assumiram a preferência do grande público. Jornalistas se associaram e lançaram o livro “Almanaque dos anos 80”, com informações gerais sobre a década extremamente divertida e inovadora – no Brasil fez-se a redemocratização e surgiu também o rock nacional, com Cazuza, Frejat, Legião Urbana, Capital Inicial, RPM e outros. Acrescente-se que Mílton Nascimento, Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, dentre outros, eram figuras facilmente encontráveis nas programações. Hoje, nem tanto.

Havia, naquela década, uma espécie de unidade territorial – rádio, tevê e outras mídias; a música produzida no Rio e São Paulo, centros culturais do País, chegava às demais regiões. Hoje, temos Wanessa da Mata, Maria Rita, Marisa Monte, mas a veiculação é sofrível, porque o que toca nas emissoras, em sua maioria, são as músicas baianas, que dizem muito para os próprios baianos — e muito pouco para os piauienses; sem contar na diversidade do forró, que não diz nada para ninguém e sequer sobrevive à próxima semana, músicas de gosto extremamente duvidoso. A boa produção musical brasileira fica restrita aos grandes centros.

Antes, se dizia que cada povo tem o governante que merece. Hoje, podemos afirmar, alto e bom som, que cada região tem a música que merece. Nosso apego às questões da cultura é muito limitado. Na verdade, vivemos uma época de transição, em que se experimenta de tudo e não se aproveita quase nada. Não se sabe até quando... E também não sabemos por que a nossa música, a música produzida no Piauí, não recebe a valorização que merece.

Enquanto isso, vive-se a redescoberta dos bons tempos, como os anos 80, em que éramos felizes e não sabíamos, apesar da inflação galopante e dos monstrengos da política. Redescobre-se agora os anos 70. Como eram interessantes, dizem os saudosistas, e a indústria fonográfica investe maciçamente em regravações — Village People, Gloria Gaynor, Roberta Kelly, Tina Charles, Bee Gees; no Brasil, Sarah, Brenda, Lady Zu e outros, considerados brega, como Amado Batista — que nunca deixou as paradas do gosto popular —, Reginaldo Rossi e Odair José.

O que há de mal em gostar dos bregas? Nada demais. O problema está na qualidade. E, se afirmamos que são precários, o que não dizer do que se produz atualmente? Quando voltamos demais os nossos olhos para o passado é porque precisamos reaprender algumas lições. Isso significa que o presente não está indo muito bem, e não é apenas em termos de música.

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