No conhecemos em 1987, muito jovens ainda. Ela tinha 18, eu 20.
Éramos funcionários da Rádio São José dos Altos. A vida nos sorria com um
futuro inteiro pela frente, de muito amor e realizações. Mas a gente ainda não
sabia.
Eu a vi pela primeira vez e não entendi que nosso destino
estava ligado de forma definitiva. Sabia apenas que existia algo muito forte
que me chamava ao seu encontro. E aquilo foi me envolvendo de uma forma
completamente emocional. Coloquei de uma vez por todas a razão de lado e me
deixei levar por aquele sentimento irresistível.
Nos apaixonamos perdidamente em pouco tempo. Pedrina se
tornou minha namorada secreta porque nossa relação era proibida. Seus familiares
não me queriam por perto talvez por conta da minha profissão de jornalista e
radialista. Nunca entendi ao certo o que estava acontecendo ali, nem procurei
entender. Queria apenas ser feliz ao lado da mulher que me fora indicada pelo
destino.
Mas este não foi o maior problema. Algum tempo depois que
começamos a namorar descobrimos que ela tinha um problema cardíaco muito sério
e aquilo nos deixou a todos preocupados e profundamente perturbados. Pedrina
teve que ir a São Paulo repentinamente para uma cirurgia de peito aberto. Talvez
não voltasse com vida. Entrei em pânico.
Sua ausência física simplesmente era esmagadora. Eu podia
sentir sua presença em todos os lugares e aquilo me oprimia de todas as formas
que se possa imaginar. Pensei em morrer, em tirar minha vida se ela não
voltasse.
Bebia como um louco. Então apareceu a música dos Fevers, “Um
Louco”. Andava pelas ruas da cidade completamente perdido, sem destino, na
escuridão dos bairros mais distantes, quem sabe em busca de um destino incerto,
de alguém que pudesse me livrar desse fardo que era viver longe de Pedrina. Ou na
incerteza de sua sobrevivência. Eu sinceramente não sabia naquele momento se
iria conseguir.
Então numa madrugada na praça Cônego Honório o encontrei
pela primeira vez. Era um mendigo que dizia se chamar Dante. Pedia umas moedas
para continuar bebendo. Eu tinha bebida suficiente para nós dois. E tinha
também suas moedas. Desde, é claro, que ele me ajudasse. – A fazer o quê?! –
questionou. Me ajude a chamar Pedrina. Para a lua, para a luz dos postes, para
o universo, o firmamento. Eu preciso apenas que chame junto comigo.
E começamos a gritar desvairadamente. Por noites a fio,
entrando pela madrugada. Na praça, nas ruas da cidade, nos bairros mais
distantes. Uma vez na Tranqueira, outra no São Luís. De repente, não estava
mais em mim. Apenas a companhia de Dante, que nunca conseguia encontrar durante
o dia, por mais que o procurasse.
Pedrina para a lua, para as estrelas, Pedrina para sempre. Diga
junto comigo. Grite junto comigo. – Estou gritando – ele dizia. Os moradores
reclamavam, chamaram a polícia. Fomos acusados de perturbação do sossego
público. Meu companheiro desapareceu na escuridão da madrugada. Os policiais me
encontraram e me disseram que eu deveria ir para casa. Me ajudaram a chegar em casa.
Lembro-me que fiquei dizendo coisas sem sentido, do tipo “preciso
que ela volte”, “sem ela minha vida não terá mais nenhum sentido”, “sou apenas
um jovem Wearther do século XX.” Era o ano de 1989. E então a mágica aconteceu.
Numa tarde quente de setembro, Pedrina me ligou. Estava sendo transferida de um
hospital para outro. Pré-operatório. Pensei que não pensava mais em mim, eu
disse. Choramos juntos ao telefone. Três mil quilômetros nos separavam. Uma distância
infinitiva para um sujeito de 20 anos, sem lenço, sem documento, sem dinheiro
no banco, sem parente importante e sem nenhuma possibilidade, naquele momento,
de sair daquela condição.
Pedrina retornou algumas semanas depois. Estava devidamente
cirurgiada – e curada. Pudemos realizar o nosso amor e o nosso casamento ainda
naquele ano – 23 de novembro. Poucos meses depois, nosso filho a caminho,
consolidava a força maior da minha expressão.
Foram minhas palavras, meus chamamentos insistentes. Meu clamor
em direção aos céus, a todos os seres encantados da noite, da madrugada, ao Ser
que nos criou. Foi isso que, para mim, a trouxe de volta. E Dante que muito me
ajudou. Nossos gritos se somaram em romper o silêncio da pequena cidade e percorreram os milhares de quilômetros
violando a barreira e chegando até os ouvidos de Deus.
Dante sumiu completamente depois desse episódio. Nunca o
tinha visto antes e nunca mais o vi depois. Foi talvez o ser enigmático enviado
para ajudar a trazer Pedrina para perto de mim, fazendo-a minha namorada para
todo o tempo da nossa existência.
Aproveite bem o seu Dia dos Namorados e nos conte a sua
história. A música que está tocando agora é “The Way You Are”, do Secret Service.
(Toni Rodrigues)
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