Segundo bispo dom Alfredo Schafler, de Parnaíba, houve mais duas mortes posteriormente, provocadas pelo desespero e falta de assistência do poder público. As vítimas não tiveram amparo imediato e precisaram recorrer à Justiça para garantir suas indenizações.
Dez anos depois, ainda não conseguiram ser indenizadas em sua
plenitude. Falta uma parte a ser quitada pelo governo do estado, responsável
pela tragédia. O então governador, que é o mesmo de hoje, ficou livre, pelo
menos por enquanto, da acusação de homicídio culposo – aquele em que não se tem
a intenção de matar.
Mas é responsável pelos danos causados na estrutura do lugar.
E foram muitos e tantos que até hoje a economia de Cocal não se recuperou
completamente. E nem da região. Mesmo assim, o chefe do executivo estadual se
mantém líder político absoluto na região. Sobretudo na parte mais atingida. Já
em 2010, ano seguinte à tragédia, ele foi o terceiro candidato a senador mais
votado, apesar da repercussão negativa em torno da tragédia, que ganhou
dimensão nacional.
Naquele ano, ele foi eleito senador com cerca de um milhão de
votos. A oposição foi derrotada e perdeu suas duas vagas no senado – Francisco Moraes
Souza (Mão Santa) e Heráclito Fortes. O governador conseguiu se eleger
novamente governador no pleito seguinte (2014) e se reeleger em 2018. Como se
vê, para ele a política é uma razão de existir. Para as vítimas de Algodões,
lhes foi negado inclusive esse direito supremo.
O jornalista que vos escreve foi processado na época por
denunciar a negligência do governo em relação às vítimas da tragédia. No primeiro
ano do acontecimento, em 2010, o bispo de Parnaíba fez um pronunciamento sobre
o assunto e criticou duramente o governador, sua esposa, então coordenadora de
ação social do estado, e outros auxiliares diretos do governo.
Este repórter transcreveu a fala do bispo em matéria para
portal de notícias de Teresina e uma emissora de rádio. Logo em seguida houve o
processo judicial. Pressionado pelo governo, o bispo negou que tivesse
concedido entrevista ao jornalista. Ora, na matéria nunca se disse que se
tratava de uma entrevista. Era matéria feita com base em sua homilia na missa
de um ano.
O caso foi esclarecido quando o bispo falou ao jornalista e confirmou
tudo que havia dito durante a celebração. O processo judicial já havia sido
arquivado. O governador não pode atentar contra a liberdade de expressão. Esta tem
sido a compreensão da justiça piauiense na maioria dos casos de ações contra
este que vos fala. Mas, sigamos adiante.
O caso da barragem é de responsabilidade do governo do estado
por duas razões simples: 1) os moradores já haviam se retirado de suas
residências na área de abrangência de Algodões, alertados que foram pelo Corpo
de Bombeiros. Estavam prestes a se alojar em escolas públicas e outros prédios
públicos do município de Cocal. Mas uma determinação para que voltassem partiu
da então presidente da Emgerpi, em nome do governo. 2) O governo do estado
contratou uma engenheiro experimentado para dar um laudo informando que
barragem não apresentava nenhum risco de rompimento. O laudo foi feito,
emitido, pagou-se uma fortuna pelo mesmo. No dia seguinte, a barragem
desmoronou e os prejuízos chegam a cerca de R$ 100 milhões – não totalmente indenizados
até o presente momento.
Muitas matérias e editoriais têm sido feitos ao longo de todo
esse tempo. Mas o governador faz de conta que não tem nada com isso. De outro
lado, o questionamento que fazemos diante disso é por que os senhores
defensores da vida humana e dos direitos sociais não fizeram nenhum protesto em
27 de março para pressionar o governo do Piauí diante da negligência em torno
do caso Algodões. Ao mesmo tempo, ficam procurando chifre em cabeça de cavalo
no tocante aos projetos do governo federal por se tratar de uma administração
que não atua segundo o seu espectro político. Ou seja, a esquerda brasileira e
piauiense está muito mal de julgamento e talvez resida nesse aspecto o fato de
que o Piauí segue muito mal. Muito mal mesmo. (Toni
Rodrigues)
FOTO - DOM ALFREDO, BISPO DE PARNAÍBA
FOTO - DOM ALFREDO, BISPO DE PARNAÍBA
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