Meu nobre amigo Eurípedes de Aguiar estava tratando nesta quinta-feira 12 de janeiro no Facebook sobre o imóvel da rua Areolino de Abreu que desabara no dia anterior. Vários amigos apresentaram questionamentos sobre a idade do casarão e seus antigos moradores. Até que Eurípedes lembrou-se de um personagem de Teresina dos seus anos de menino que se tornou muito conhecido por um fato inusitado e que se transformou em lenda. Dirigindo ao amigo Dubá Leitão, ele pergunta: “Dubá, essa casa que desabou parcialmente no centro de Teresina era a antiga mercearia do Seu Gozozo do botão balêla?”, ao que Dubá responde: “Justamente.” O diálogo prossegue com Eurípedes afirmando: “Antes de fazer a pergunta, esclareço que estou falando de lenda. E lenda, pelo menos em minha opinião, é a história que ficou. Ou a versão, como queiram. Portanto, não estou dizendo que aconteceu ou que aconteceu com certa pessoa. Dito isso, pergunto: alguém sabe porque Seu Gozozo ficava puto quando alguém perguntava se tinha botão baleiro?”
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Então Eurípedes de Aguiar conta a seguinte história: “Seguinte.
Lembro mais uma vez que é uma lenda, e lenda tanto pode ser história real como
uma história parecida com a real, ou até mesmo uma completa fantasia bem
diferente do que aconteceu. Bem, dizia a lenda que um certo Seu Gozozo, um
senhor já bem velhinho, tinha uma quitanda ali pelo centro de Teresina, que
funcionava na esquina de sua própria residência. Quitanda, para quem não sabe,
é um armarinho que vende também alimentos (arroz, feijão, açúcar, etc) e demais
utilitários para casa, como velas, lamparinas, querosene,álcool, etc. Algumas
até vendiam uma cachacinha. Meu avô, José Gonçalves Machado, Seu Zuza Machado,
teve uma no cruzamento da Lisandro Nogueira (naquele tempo, Rua da Glória), com
Arlindo Nogueira). Bem, nas quitandas, muitas mercadorias acabam encalhando,
sobretudo de armarinho. Saem da moda e ninguém compra mais. Foi o caso de umas
caixas de botões de madeira que estavam encalhados na quitanda do Seu Gozozo.
Um belo dia, Seu Gozozo está limpando os tais botões, imaginando se não seria
melhor jogar fora, já que estavam há mais de 15 anos encalhados, quando entra
um moleque sem vergonha, que pede um dos botões para dar uma olhada. Vendo que
se tratava de botões baleiros, dos grandes e de todas as cores, como quem não
quer nada, fala que achou bonito e pergunta o preço. Seu Gozozo, grande
comerciante na juventude, vê naquele menino idiota uma oportunidade de vender
alguns daqueles botões encalhados e oferece por uma ninharia. O menino pede 30
botões, paga e dispara rua afora. Chega na praça, encontra a turma e vende
todos os botões por vinte vezes o preço que comprara de Seu Gozozo. Não conta
para ninguém onde tinha comprado, sai despistando, dispara por uma rua, dobra
por outra, sempre olhando para trás para não ser seguido e chega novamente na
Quitanda, onde, inventa que sua mãe é costureira e quer 100 botões para fazer
farda de colégio. Seu Gozozo acha estranho fazer farda de menino com botão de
terno, de casaca, mas, enfim, deixa para lá. O certo é que está mandando
aqueles botões para frente. Quando o menino ia saindo, Seu Gozozo ainda falou
como garantia: não tem troca e nem devolução. Só que, por mais cuidado que o
menino sem vergonha tinha tomado, ele foi seguido. E, mal ele saiu da quitanda,
chegaram mais dois pedindo botões. E seu Gozozo, pensando estar se dando bem,
foi vendendo. Mais meninos, mais vendas, até que os botões acabaram. Aí, chegou
um último menino perguntando pelos botões. E Seu Gozozo, depois de dizer que já
tinha acabado, resolveu perguntar por que tanto interesse por aqueles botões
velhos. O menino disse os botões eram ótimos para jogar e estavam vendendo por
(um valor 20 vezes o que vendia o Seu Gozozo). Aí, Seu Gozozo enfezou de vez,
achando que tinha sido enganado. Só que a notícia já tinha se espalhado pela
cidade e chegava menino de todo canto na quitando de Seu Gozozo pedindo botão baleiro.
Seu Gozozo começou a dar uns gritos e colocar os meninos para fora, mas a coisa
continuava e, depois que descobriram a história toda, passaram a fazer só de
sacanagem, e somente meter a cabeça na porta e gritar: ‘Seu Gozozo, tem botão
baleiro?’ E Seu Gozozo pegava um peso de 1 Kilo e mandava na cabeça do moleque
sem vergonha. Graças a Deus, nunca acertou a cabeça de ninguém, porque, então,
a lenda não seria uma lenda engraçada (menos para o Seu Gozozo), e sim um lenda
trágica. Salvo algum engano e algum erro de redação pela pressa, essa é a lenda
que eu soube. E, nas minha lembranças, Seu Gozozo era um velhinho magrinho,
gente boa, muito educado, prestativo e gentil. E eu nunca tive coragem de
perguntar a ele por botão baleiro.”
Publicado originalmente no Facebook de Eurípedes de Aguiar >>> ACESSE AQUI
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