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quinta-feira, 30 de maio de 2019
A TRAGÉDIA QUE ANTONIO PINTO SOUBE TRANSFORMAR EM RENASCIMENTO
Boa madrugada para todos. São precisamente 3h23min quando começo a escrever esse texto. No sábado, 25 de maio, estive na cidade de José de Freitas para acompanhar de perto o lançamento do livro de Antonio Pinto intitulado “Depois da Queda, o Voo”. Sem dúvida, uma obra interessante. Não se trata desses livros de autoajuda em que os autores ficam dando conselhos sem entenderem patavinas do que estão falando. Antonio Pinto tem uma história de vida das mais interessantes – e absolutamente originais. Ele nasceu em José de Freitas mesmo, perto de Altos, portanto, somos vizinhos. Nos conhecemos há pouco mais de um ano, quando ele me convidou para o lançamento de sua obra - ainda na ideia. Detalhe: o autor é cadeirante. Foi vítima de uma bala perdida. Nesse caso, existe um outro detalhe que conto mais tarde. Em 1988, elegeu-se vereador em José de Freitas. No mesmo ano, elegeu-se prefeito do município o médico humanista Gerardo Linhares, que era servidor da Fundação Nacional de Saúde. Um homem de bem, vocacionado para o servir, trabalhador ardoroso, incansável, que realmente se envolvia com a causa dos mais pobres e que em pouco tempo começou a mudar a realidade de José de Freitas. Gerardo Linhares não faria isso impunemente porque, como se sabe, a grande maioria das pequenas cidades piauienses, é controlada por oligarquias seculares. Essas cidades foram criadas exatamente para esse fim. Ali não seria diferente. Parece até que bem mais do que em outras comunidades piauienses. A divisão de classes é ainda mais consistente. Os barões persistem no casario, no mobiliário, muito mais do que nos sobrenomes. Os donos do poder local ainda mandam até na política do estado. Na noite de 6 de julho de 1990 -- o livro detalha isso muito bem -- Gerardo Linhares estava saindo do Hotel Municipal (hoje completamente abandonado) em companhia do então vereador Antonio Pinto, quando foi abordado por Lourival Holanda da Silva. O homem parecia muito exaltado e os dois discutiram brevemente na escadaria do hotel. Era uma questão de terras. A prefeitura havia feito uma desapropriação que tinha deixado Lourival indignado. Ele queria que o prefeito revisse a questão. Gerardo disse que não tinha como recuar e que a decisão estava tomada em definitivo. A hora de conversar tinha passado. Em seguida, entrou no carro de Pinto, que estava parado e funcionando na porta do hotel, com o amigo ao volante. Inconformado, Lourival, mais conhecido por Louro, aproximou-se e disparou vários tiros à queima-roupa, atingindo o prefeito que teve morte quase imediata. O vereador foi atingido no pescoço, sendo que a bala alojou-se em sua coluna cervical e o deixou paralítico e preso a uma cadeira de rodas. Preso é apenas força de expressão. Na eleição seguinte, movido por uma extraordinária força de vontade, Antonio Pinto dobrou a votação. Conquistou ainda um terceiro mandato em 1996. Mas abandonou a vida pública em definitivo em 2000 devido aos problemas de saúde decorrentes da sua vida de cadeirante. Só que ele não se entregou, apesar da depressão de que fora temporariamente acometido. Resistiu a ela e passou a se dedicar à internet e aos esportes radicais, como voos em pequenas aeronaves e movimentações de rapel. Um verdadeiro atleta da superação. Vale a pena conhecer a sua história no livro que se lê de uma única sequência. Uma história primorosa e valorosa. Antonio Pinto, um piauiense autêntico e valioso. (Toni Rodrigues)
CRÉDITOS/FOTOS - PEDRO RODRIGUES para imagem de Antonio Pinto e BLOG DO SARAIVA para foto de Gerardo Linhares
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Quando ele me pediu para lhe ajudar com uma leitura crítica da obra, não pensei duas vezes e li tudo avidamente. Participar desse projeto foi muito bom, fiz o prefácio com convicção de que as pessoas podem e devem se inspirar nesta história.
ResponderExcluirDéborah Aviaras
Escritora de Romance
Uma história realmente fantástica. Emocionante.
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