segunda-feira, 13 de maio de 2024

9 prefeitos foram assassinados no Piauí em período de 10 anos

Cézar Leal e Manoel Portela, mortos em 1996

Entre o final da década de oitenta e o início do século vinte e um nada menos que nove prefeitos e ex-prefeitos foram assassinados no Piauí. A maioria dos matadores permanece impune, com raríssimas exceções. Nas mais das vezes, a Justiça mantém encarcerados os executores e deixa em liberdade os mandantes, geralmente egressos da elite econômica e cultural da capital ou das oligarquias políticas do interior, responsáveis pela manutenção do nosso sistema de poder.

Em 1989, registrou-se o primeiro caso de assassinato de ex-prefeito por encomenda. Outros casos ocorreram antes, todos por conta de rixas localizadas. A partir daquela data, contudo, esse tipo de crime ganhou uma característica específica. Matava-se para tomar o poder e usava-se, como meio de financiamento do crime, o dinheiro público. Relacionamos, a seguir, os assassinatos de prefeitos ocorridos no Estado do Piauí e que geraram, em 1999, o surgimento de uma associação integrada pelos familiares das vítimas e que teve por objetivo denunciar os desmandos do sistema judiciário — que estaria privilegiando os mandantes em detrimento dos ditames legais.

OS PREFEITOS ASSASSINADOS

1 – FRANCISCO LUÍS DE MACEDO. Médico. Ex-prefeito de Padre Marcos. Assassinado em 29 de abril de 1989 num bar do bairro São Pedro, zona Sul de Teresina, enquanto jogava sinuca com amigos. Durante uma partida, um elemento aproximou-se de Francisco Macedo e disparou um tiro à queima-roupa contra sua cabeça. Ele foi levado às pressas para o HGV, onde já chegou sem vida. O delegado responsável pela investigação, Delfino Vital de Araújo (então titular da delegacia de homicídios), concluiu que a morte foi praticada sob encomenda de familiares do ex-prefeito por conta da disputa política local.

Raimundo Marques, de Luzilândia; e Abraão Gomes, de Porto

2 – ABRAÃO GOMES DE OLIVEIRA. Agropecuarista. Ex-prefeito de Porto. Deputado estadual. Morto em 1º de agosto de 1989, quando exercia o mandato de deputado estadual. A polícia apontou o pistoleiro Alcides Nery do Prado como executor. Ele está preso na penitenciária Major César Oliveira, onde converteu-se ao protestantismo. Abraão Gomes foi morto no momento em que chegava em casa, início da casa, após a sessão legislativa. O Ministério Público acusou, como mandante, o advogado Virgílio Bacelar, irmão do prefeito Dó Bacelar e adversário político de Abraão Gomes. Virgílio nunca foi levado a julgamento.

3 – GERARDO LINHARES. Médico. Prefeito de José de Freitas. Morto em 1990 no centro da cidade, diante do Hotel Municipal. O crime foi presenciado por dezenas de testemunhas. O motivo do crime teria sido a disputa por terras naquele município. O prefeito desapropriara área pertencente à família do matador, Lourival Holanda da Silva, que teve como cúmplice na execução Antônio Paulo Filho. Os dois foram condenados pela juíza Rosa Moura Leal.


João Brígido (Capitão de Campos) e Gerardo Linhares (José de Freitas)

4 – JOAQUIM FONSECA SANTOS. Prefeito de Redenção do Gurguéia. Morto em 9 de abril de 1991. Mandato conturbado. Joaquim Fonseca reclamava de perseguições políticas e ameaças. Foi morto aos 40 anos de idade numa chácara de sua propriedade localizada a 6 km do centro de Redenção do Gurguéia. O prefeito estava rompido com a vice Eunice de Castro Macedo, membro de poderosa família política daquela região. O rompimento se deu apenas seis dias depois da posse porque, segundo ele, “os Macedo queriam fazer uma administração paralela.” Joaquim Fonseca foi morto com um tiro de espingarda calibre 12 nas costas. Cinco pessoas são apontadas como mandantes do crime: a então vice-prefeita Eunice Macedo, seu esposo Dílson Marques Fernandes e três elementos que à época exerciam mandatos de vereador. Como autores materiais foram apontados os agricultores Salvador e Termozires. A viúva, Elita, que depois se elegeria prefeita, afirma que o crime contou com a participação do esquema do coronel José Viriato Correia Lima.

5 – WÍLSON PIO BARBOSA. Prefeito de São Félix do Piauí. Assassinado em 1º de agosto de 1992 durante uma acalorada discussão com seu adversário político José Filho, empresário da cidade e que depois se tornaria assessor especial do ex-governador Francisco Moraes Souza (Mão Santa). Wilson Pio foi morto com um tiro no peito. José Filho foi levado a julgamento em 20 de dezembro de 1999 e absolvido por quatro votos a três. Os jurados entenderam que ele matou em legítima defesa. Antes de ser morto, Wilson Pio teria sacado de um revólver sem balas. O irmão da vítima, entrevistado para o livro “Matadores de Prefeitos”, denunciou que houve mobilização do governo do Estado, na época, para corromper as testemunhas e garantir a absolvição.

6 – CÉZAR AUGUSTO LEAL PINHEIRO. Prefeito de Altos. Ex-bancário. Ex-vereador. Morto na noite de 11 de abril de 1996 em sua própria residência. O executor, Raimundo Nonato Alves dos Santos, conhecido como “Gordinho”, havia pedido uma carrada de piçarra para, supostamente, aterrar a área diante de sua casa que estaria alagada. Estava acompanhado pelo pistoleiro Francisco Alves Barbosa, o “Pacajás”, intermediário da negociação. O promotor de Justiça Renné Piauilino acusou o então vice-prefeito Antônio Orlando da Silva como mandante. Gordinho foi preso na madrugada de 12 de abril e confessou o assassinato, dando nomes ao intermediário e ao mandante. Teriam participado ainda os marchantes Abimar Paixão de Sousa, o Abimar “Marinheiro”, e seu filho, Afrânio Paixão de Sousa. Posteriormente, no depoimento à Justiça, foi orientado pelos advogados Nazareno Weimar The e Odonias Leal a mudar o nome do mandante para Orlando Loyola, provocando com isso a “contaminação” do processo e dificultando o trabalho da Justiça para garantir a punição ao verdadeiro mandante, que permanece impune até os dias atuais.

7 – MANOEL PORTELA DE CARVALHO. Prefeito recém-eleito de Aroazes. Morto em 11 de dezembro de 1996 ao chegar na sua residência no conjunto habitacional Parque Piauí, zona Sul da capital. Desceu do carro para abraçar os filhos pequenos que o esperavam à porta. Era por volta de 22 horas. O pistoleiro Cícero Godoy da Silva o matou com um tiro na cabeça. O então procurador-geral de Justiça Antônio de Pádua Linhares apontou como mandante o ex-candidato Manoel Raimundo do Nascimento Vale, derrotado por Manoel Portela na eleição daquele ano, e o delegado Francisco Bernardone da Costa Vale, que se encontra preso por determinação judicial.

8 – RAIMUNDO NONATO MARQUES. Prefeito de Luzilândia, região Norte do Estado. No dia 8 de agosto de 1997, como de costume, compareceu ao Posto Rural, de sua propriedade, a aproximadamente 15 km do centro da cidade, na localidade Encruzilhada. Prefeito pela terceira vez, foi morto por Ézil Barbosa Teixeira, que se encontra preso, supostamente a mando do também prefeito Antônio Lisboa, de Madeiro do Piauí. Lisboa nunca foi julgado pelo caso. Anualmente, a família de Raimundo Marques manda afixar out-doors em Luzilândia, cidades vizinhas e na capital exigindo justiça no caso.

9- JOÃO BATISTA FILHO (JOÃO BRÍGIDO). Prefeito de Capitão de Campos pela terceira vez. Início da noite, 12 de janeiro de 1999. Está sentado na porta de casa, à avenida Presidente Kennedy, a principal da cidade, juntamente com a esposa, Ediza Batista Cavalcante, e o comerciante Francisco Stanislaw Vieira, farmacista com estabelecimento próximo à residência do prefeito. Dois motoqueiros se aproximam, diminuem a velocidade, um deles dispara contra a cabeça e o tórax do prefeito. O comerciante Chico Vieira também foi atingido na perna esquerda e de “raspão” no tórax. João Brígido havia ficado conhecido nacionalmente em 1993 ao denunciar a ramificação da Máfia do Orçamento no Piauí através da Fundação Vivili, sediada em Capitão de Campos. Depois de dois meses de intensas investigações, o delegado José Lima Teles, especialmente designado para o caso, apontou como mandantes do crime o então vice-prefeito Paulo da Silva Andrade e o advogado Antônio Mendes Moura, radicado em Piripiri. O executor foi o pistoleiro Raimundo Nonato Paulino. Em depoimento à Polícia Federal, ele confessou que o assassinato (cujo contrato foi de três mil reais) de Brígida seria pago com recursos do FPM (Fundo de Participação do Município). A procuradora de Justiça Rosimar Leite Carneiro denunciou à época que fora feita uma licitação para contratar a morte do prefeito. O primeiro pistoleiro contatado teria pedido sete mil reais para praticar o crime. “Ganhou quem pediu menos”, arrematou. (TONI RODRIGUES)

BAIXE AQUI O LIVRO MATADORES DE PREFEITOS - TONI RODRIGUES

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